A direita na Europa teve uma boa notícia neste domingo. Os eleitores portugueses elegeram como presidente da República o conservador Marcelo Rebelo de Souza. Mas a notícia não foi tão boa assim. Em Portugal, o presidente tem um papel quase decorativo. Ele não governa, ele não manda. Quem governa e manda é o primeiro-ministro, Santos da Costa, que é um socialista. O novo presidente, que as pessoas chamam de Professor Marcelo, é professor universitário e comentarista de televisão. Ele tomará posse em março. E será um contrapeso ao primeiro-ministro de esquerda. Esse primeiro-ministro foi empossado há pouco tempo, em novembro do ano passado. Fazem parte do governo os socialistas, os comunistas e a chamada esquerda radical. Esse bloco de partidos procura diminuir os efeitos da austeridade econômica, que foi adotada em Portugal para superar a atual crise. Foi um remédio ortodoxo recomendado pela Alemanha. Portugal recebeu empréstimos do Banco Central Europeu para sair do buraco. Em troca, cortou gastos e salários. Mas existe uma outra questão em jogo. Em Portugal, o presidente da República pode dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas. O atual Parlamento foi eleito em outubro. A direita teve mais votos, mas perdeu a maioria das cadeiras. Foi por essa brecha que a esquerda formou um novo gabinete. Mas tudo indica que o Professor Marcelo não vai dissolver o Parlamento. Ele faria isso se tivesse a segurança de vitória ao bloco conservador. Um outro detalhe da democracia portuguesa é que o presidente pode vetar uma lei aprovada pelos deputados. O atual presidente, o conservador Cavaco e Silva, vetou ainda ontem duas leis muito simbólicas para a esquerda. Uma delas permitia a adoçã o de crianças por casais de gays ou de lésbicas. E a outra lei simplificava os procedimentos para o aborto. Mas o veto de Cavaco e Silva não vai prevalecer. O Parlamento deve derrubar os dois vetos com facilidade. É assim que o mundo gira. Boa noite.